PORTUGUÊS: MANIFESTA MATRIARCAL

Tradução de Roberto Cattani

 

 

1. Qual é o STATUS das MULHERES hoje?

 

Citamos o resumo de um relatório de 1980 das Nações Unidas:

 

“AS MULHERES representam metade da população do mundo, trabalham dois terços de todas as horas trabalhadas, recebem um décimo da renda mundial, e possuem um centésimo das propriedades mundiais” (Relatório da ONU, 1980)

 

Que ESCÂNDALO que isso representa! Contudo, ninguém parece dar-se conta do que isso significa. Mas se nós mulheres acreditamos que muito mudou desde então, estamos erradas.

Em 2010, o Presidente do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas citou os dados seguintes:

 

“AS MULHERES trabalham 66% de todas as horas trabalhadas a nível mundial e produzem 50% da comida. Mas elas ganham 10% da renda mundial, possuem 1% das propriedades, e representam 60% dentre os mais pobres no mundo”. (Hamidon Ali, coletiva de imprensa na ONU, 25 de junho de 2010).

 

Ver: www.un.org/press/fr/2010/Conf100625-ECOSOC.doc.htm

 

Como se pode ver, essa situação permaneceu a mesma em 2000, em 2010, em 2018. O relatório das Nações Unidas é publicado cada ano, mas nada muda. O ESCÂNDALO continua, e só podemos expressar nossa indignação!

 

Pedimos, portanto, uma distribuição justa da renda mundial, tal como é registrada pela riqueza nacional dos estados individuais. Pedimos:

que 50% de todas as riquezas nacionais passem a pertencer às mulheres e aos seus projetos. Uma economia compartilhada de forma igualitária em todos os aspectos!

 

 

2. Como poderia ser a POLÍTICA MATRIARCAL hoje?

 

Do ponto de vista econômico

  • Criação de novas economias de subsistência, com bases locais e regionais.
  • Comunidades de subsistência são auto-suficientes, e movimentam grupos de compartilhamento e troca de presentes; vouchers e vales representam a única forma de dinheiro, livres de juros (ao contrário da economia monetária capitalista).
  • Não se pode comprar e possuir uma propriedade de forma particular; a terra é propriedade de todos (em comum). Pertence à cidade, ou ao distrito rural; há a possibilidade de erguer uma casa de clã sobre a terra, e o direito de usufruir da terra com a agricultura.
  • O espaço vital não pode ser comprado: cada um tem que ter uma casa para morar. Não existe aluguel.

 

Do ponto de vista social

  • Novas comunidades internacionais podem surgir baseadas nas afinidades.
  • Elas consistem em clãs simbólicos, e seus membros se vêem como irmãs e irmãos por meio da afinidade.
  • Os novos clãs simbólicos são matriarcais quando são criados e liderados por mulheres e mães, conectadas pela afinidade: comunidades de mulheres, vilas de mulheres.
  • Esse tipo de clãs substitui a família nuclear, como unidade fundamental da sociedade.
  • Os clãs/comunidades desenvolvem projetos, ou cooperativas, que lhes dão coesão e continuidade.

 

Do ponto de vista político

  • O princípio do consenso matriarcal, extremamente importante para as comunidades igualitárias e uma sociedade igualitária, deve ser colocado em prática.
  • Dessa forma, surge uma verdadeira “democracia de base”; as decisões são tomadas por todos, a nível local e regional (os representantes são só porta-vozes).

 

Do ponto de vista cultural

  • O mundo todo volta a ser considerado “sagrado”. Mãe Natureza é tratada com amor, carinho e cuidado.
  • Todos os tipos de seres vivos são reverenciados como “divinos" e celebrados com rituais, realizados de forma comunitária. Todo mundo é convidado a participar. As celebrações juntam as pessoas, na base do respeito mútuo pela “verdadeira riqueza”: a diversidade do mundo.
  • Não há instituições religiosas. Dessa forma, a espiritualidade matriarcal impregna a vida cotidiana, e torna-se parte dela.

 

 

3. Como por em prática a POLÍTICA MATRIARCAL hoje em dia?

 

Solicitação fundamental:

50% da riqueza nacional pertence às mulheres e aos seus projetos. Atualmente, as mulheres que trabalham pagam os mesmos impostos que os homens. Milhões de mães trabalham sem remuneração. Mas 90% do fluxo monetário é canalizado em projetos masculinos: militares, corporações internacionais, arquitetura monumental ególatra, estádios esportivos gigantes, eventos, etc. Isso deve parar!

 

 

RESULTADOS dessa mudança de situação:

 

Do ponto de vista econômico

  • As mulheres organizam economias de subsistência para si mesmas e suas comunidades: jardins, fazendas, suas próprias lojas, sua própria distribuição, compartilhamento e troca de presentes.
  • Cada família extensa, ou clã simbólico, formado por mulheres, recebe sua(s) própria(s) casa(s). Surgem vilas de mulheres.

 

Do ponto de vista social

  • As mulheres fundam novas comunidades, com relações de parentesco ou de afinidade, com suas irmãs e irmãos de afinidade. Suas casa são multi-geracionais. A maternidade é coletiva. Não há mais isolamento das mães em núcleos familiares, nem isolamento social de pessoas de qualquer grupo de idade.
  • As mulheres abrem suas próprias escolas, faculdades, universidades, escolas técnicas e culturais, conforme seus próprios conhecimentos e valores, partilhando-os com todos. As mulheres dispõem de suas próprias estruturas médicas e seus próprios seguros de saúde.

 

Do ponto de vista político

  • As mulheres encarregam-se de organizar e manter o princípio de consenso dentro de suas famílias extensas, ou clãs simbólicos, e de organizá-lo a nível local e regional. Para uma política prática da base para cima, e não mais partidos políticos abstratos de cima para baixo.
  • As mulheres dispõem de seus próprios conselhos e auto-administração, a nível de comunidade, local e regional. Os homens também dispõem dos seus, e a comunicação é feita com base igualitária. Mulheres e homens evitam as instituições dominadas pelos homens, e não lhes dão mais sustento.

 

Do ponto de vista cultural

  • As mulheres dispõem de suas próprias editoras, livrarias e redes de distribuição, suas próprias estruturas técnicas, suas próprias galerias de arte, teatros, museus. As mulheres criam seus próprios sítios espirituais, onde celebram a Terra e a vida junto com suas comunidades.
  • As mulheres e todos os membros das comunidade ativam-se para evitar mais destruição do meio-ambiente, mais danos ao solo, às águas, à Terra e às suas plantas e animais.

 

AS MULHERES tornam-se proprietárias da metade da economia que lhes pertence, e não são mais simplesmente ‘toleradas' nas instituições masculinas. Não precisam mais mendigar para realizar seus próprios projetos.

Elas desenvolvem seus próprios projetos independentemente da dominação masculina, dos valores e da visão de mundo masculina. Surge assim uma verdadeira sociedade matriarcal, ao mesmo tempo igualitária e amigável em relação à vida!

 

 

O que FAZER agora mesmo?

  • Difundir essa informação
     
  • Criar um grupo ativista.
     
  • Publicar num pôster o relatório das Nações Unidas acima e a demanda para uma “economia partilhada de forma equitativa”, e exibí-lo nas ruas.
     
  • Criar um movimento na internet.
     
  • Lançar um movimento de greve das mulheres a nível local, regional e nacional, para manifestar nas praças das cidades, pedindo uma “economia partilhada de forma equitativa”.
     
  • Contatar mulheres em cargos importantes na política, e convencê-las a colaborar.
     
  • Contribuir com suas próprias ideias.